A desigualdade de gênero nos centros urbanos pode ser vista e é um grande problema, porém no campo as mulheres se encontram ainda mais fragilizadas em diversos aspectos. As longas distâncias entre vizinhos, a ausência de telefone e internet e a falta de serviços de saúde e de delegacias especializadas são uma combinação que beneficia e muito a ocorrência, e por conseguinte, a subnotificação da violência doméstica. A importância econômica da atividade feminina na agricultura familiar é ignorada, se pensando sempre na mulher como guardiã do lar e dona de tarefas que exijam atenção ou trabalhos delicados. Para além, a violência patrimonial é uma realidade para grande parte das camponesas, que em alguns casos chegam a ter afanado o seu direito à herança. A depressão das mulheres mais velhas, que perdem com a capacidade reprodutiva o pouco poder que tinham, fica invisível e sem cuidados. Aliado a tudo isso, tem as problemáticas que também atingem mulheres da cidade, como a falta de voz em espaços como sindicatos e mesmo movimentos sociais, caracterizando uma situação nada fácil.
Quando se pensa em igualdade de gênero na agroecologia e no campo a ideia não é sobrepor a mulher ao homem, e sim falar como a desigualdade afeta as relações em todos os âmbitos da sociedade. O princípio é pensar como essas mulheres podem ser protagonistas nos seus espaços e serem donas das suas decisões. Quando debatemos assuntos como machismo no campo e na agroecologia, automaticamente combatemos outros tipos de violência e preconceito, como: A masculinidade tóxica e a LGBTfobia. A dicotomia entre produção e reprodução e a questão da subordinação das mulheres, questionada como produção histórica do sistema patriarcal e do sistema capitalista, continua presente nas estatísticas, nas práticas sociais e nas políticas públicas. Essa visão tem que ser combatida em qualquer âmbito da sociedade, mulheres tem capacidades idênticas aos homens. O papel da agroecologia nesse assunto é importante, pois para além da agricultura sem veneno, a agroecologia é um conceito que vem para pensar a construção e mudar as bases para relações sociais, modificando as paradigmas para um mundo mais sustentável e melhor para todos. Essa reflexão leva a entender a importância de se aliar a agroecologia as lutas diárias e concluir que sem igualdade, seja de gênero ou qualquer outra, não existe agroecologia.
Laura Santos e Ana Beatriz Bessa
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