O atual modelo hegemônico de exploração produtiva da terra, popularmente conhecido como agronegócio, tem ganhado cada vez mais espaço e incentivo na mídia e nas legislações dos países. Propagam-se ideias relacionando o agronegócio como a oportunidade de crescimento econômico, formação de emprego e renda no campo e que rompe com o temor acerca da concepção de que supostamente pode ocorrer um desequilíbrio global entre produção de alimentos e abastecimento populacional.
O agronegócio, traduzido do inglês como agrobusiness, corresponde a uma junção de inúmeras atividades voltadas à produção e subprodução da agricultura, pecuária e derivados. Esse modelo, baseia-se na produção em larga escala, normalmente através de atividades de monoculturas em grandes latifúndios e voltados à exportação ao mercado internacional, ou seja, objetiva-se a máxima efetividade e em curto espaço de tempo, a fim de obter uma maior lucratividade possível, pois conta com o auxílio de tecnologias e máquinas que reduzem a mão de obra humana e aceleram a produção.
Ninguém duvida que o agronegócio aquece a economia, dada a sua capacidade de movimentar uma série de setores como bancos, indústria de insumos agrícolas (fertilizantes, herbicidas, inseticidas, semestres etc), laboratórios, indústria automotiva entre outros. O agronegócio se adaptou muito bem ao sistema capitalista neoliberal e garantiu uma lucratividade nas cifras de bilhões aos países. No entanto, questiona-se, amigo(a) leitor(a): sobre qual concepção de produtividade estamos falando? A quem de fato o agronegócio tem beneficiado? Quais os reflexos nas populações do campo e os impactos deixados no meio ambiente?
Essas reflexões são importantes pois desmistificam o agronegócio como um modelo de produção ideal, isento de problemas e que supostamente deve ser incentivado ou copiado, como faz a grande mídia. Na verdade, o agronegócio tem sido o grande responsável por problemas crônicos, tal como a redução do mão de obra braçal e, consequentemente, o aumento do desemprego nas áreas rurais e contribui para a produção de alimentos ricos em agrotóxicos, com potencial devastador sobre a saúde humana. Esse mesmo modelo de “produtividade” tem contaminado o solo e as águas, destruindo a biodiversidade animal e vegetal e inibindo a produção agrícola familiar, baseada na economia e no abastecimento do mercado local de produtos orgânicos e, portanto, saudáveis.
Na prática, os prejuízos desse modelo de produção agropecuário superam os seus benefícios, pois não se pode falar em desenvolvimento econômico de um país, baseado em processos de exploração desenfreados, que põem em risco o emprego, a vida e a saúde das populações, bem como degrada o meio ambiente, mediante diversos tipos de poluição, a destruição de biomas e a perda, em alguns casos, total e permanente da biodiversidade. De fato, o agronegócio, que se retroalimenta de um lucro inconsequente, está longe de ser um modelo essencialmente produtivo, sendo portanto, destrutivo.
As mazelas do agronegócio nos moldes capitalista-exploratório
Por definição, a agricultura visa produzir alimentos, enquanto o agronegócio visa à produção de commodities (mercadorias) para o mercado mundial. Esse é o cenário brasileiro, de um lado o agribusiness, representada pela burguesia, e de outro, a agricultura camponesa representada pelos pequenos produtores rurais. Com ideologias totalmente distintas, os dois grupos seguem em disputa.
O agronegócio, poderia também ser definido como "a forma mais avançada de capitalismo no campo", já que ele tem a meta de maximizar os lucros através do controle de custos de produção e comercialização. Somado a grandiosa ajuda do Estado, funcionando como o agente facilitador de financiamentos , isenções fiscais nas importações e exportações e taxas de juros favoráveis ao modelo de agricultura capitalista. Um aparato midiático que dissemina as ideias necessárias para convencer que esse é o único modelo viável de produção de alimentos. E ainda, sabe-se que a expansão do agronegócio só foi possível em função da aliança que se produziu entre as empresas multinacionais com os fazendeiros e grandes proprietários de terra.
É sabido que os investimentos na agricultura no Brasil aumentaram desde a Ditadura Militar, com projetos de modernização do campo associados à repressão de camponeses. Por outro lado, são históricas também as lutas de resistência da classe camponesa até hoje, seja organizando movimentos de fugas e formando quilombos; seja realizando ocupações de terra para formar assentamentos rurais; seja bloqueando rodovias. Além dessas, que são lutas abertas, há também as estratégias de produção baseadas nos princípios da Agroecologia, são os sistemas produtivos sustentáveis com formas de organização e comercialização direta da produção, que ampliam a autonomia da agricultura camponesa frente ao sistema capitalista opressor.
É urgente e necessária uma política de reforma agrária consistente e ampla, junto com uma política agrícola de apoio à pequena produção familiar e camponesa, que gerem dignidade e melhores condições de vida para os homens, as mulheres e os jovens do campo. Portanto, o sistema de produção baseado na monocultura, na mão de obra escrava e na grande propriedade protegida pelo Estado que é o agronegócio, deve ser substituído por um modo de produção agrícola, que seja sustentável e socialmente justo.
Como repensar a ideia de desenvolvimento produtivo sustentável
Agora que já sabemos que o agronegócio não é pop, não é agro e não é tudo, podemos observá-lo como repartição de um sistema capitalista explorador e opressor que está levando o planeta na direção da destruição. Mas ainda há esperança, existe um outro caminho que podemos seguir para acabar com essas forças opressoras que destroem tudo que veem pela frente.
No Brasil, resiste um grupo de pessoas que faz um trabalho incrível em busca de um mundo mais justo e sustentável, como exemplo, podemos citar a Sociedade do Bem Viver - um projeto revolucionário que visa um modo de vida totalmente oposto ao capitalista que estamos acostumados - tendo o sócio ambientalista Thiago Ávila como um dos principais idealizadores.
Thiago Ávila fala de 5 passos para caminharmos na direção da mudança e assim poder salvar o planeta do agronegócio. O primeiro passo é a defesa e regeneração dos biomas, a maior parte das queimadas que estão acontecendo são ilegais, e é dever do Estado defender os biomas dessa degradação terrível, porém, sabemos que isso não tem acontecido. Então, mais do que nunca é fundamental fortalecer a luta de povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas, que há séculos estão resistindo na linha de frente da luta contra o desmatamento e destruição dos biomas e mesmo sendo massacrados desenvolvem um papel importantíssimo que além de proteger, é regenerar os biomas.
O segundo passo é promover educação ambiental numa troca de conhecimentos entre campo e cidades e crianças e adultos. Este passo é o despertar da consciência para reverter o desastre ambiental planetário causado por ações indevidas e repetidas no modo errôneo de abastecer as necessidades humanas. Como diria Paulo Freire “Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”.
O terceiro passo é defender e lutar por um investimento público desmontar o esquema fraudulento do agronegócio e isso envolve acabar com a distribuição de subsídios que o governo usa como manobra para sustentar a ideia falsa de que o agronegócio é o motor da economia, envolve também , além de outras inúmeras ações, cobrar que se cumpra a política de reforma agrária.
O penúltimo passo é viabilizar tecnicamente, economicamente e legalmente a transição agroecológica no campo e conectar ela também com uma grande transição ecológica na cidade, é avançar na construção de agroflorestas que é o modo de regeneração das florestas e biomas deste século. É incentivar e apoiar a mudança comportamental de uma sociedade consumista e capitalista para uma sociedade responsável e consciente.
E o último e quinto passo para não deixar que o agronegócio destrua o planeta é a mudança das relações de poder, pois só assim torna-se viável a transformação que precisamos, é imprescindível para alcançarmos uma sociedade do bem viver, a resistência ao capitalismo e todas suas repartições. Ou seja, um sistema de poder em que o povo manda e o governo obedece.
Portanto, ainda podemos fazer nossa parte, ainda é possível salvar o planeta da degradação, construindo uma nova economia humana que valorize o que realmente importa para a sociedade, em vez de alimentar uma busca sem fim pelo lucro. Uma economia que valoriza o trabalho agroecológico de famílias e grupos - que protege e regenera o meio ambiente - em vez da riqueza de bilionários ruralistas. Uma economia que se importe em manter as pessoas saudáveis. Uma economia que funciona para todos, não apenas para alguns poucos afortunados. Essa é a economia que precisamos!
Mariana Dourado, Wellington Carneiro Guimarães e Yanna Maria
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