A história da humanidade é marcada por transições da relação humana com a natureza. Um primeiro marco foi a mudança do nomadismo para o sedentarismo, esse processo se deu pela observação ao longo da história dos ciclos da natureza que fomentou conhecimento para plantar, colher e criar animais em uma relação de simbiose. Esse modelo, nomeado de tradicional, era baseado nos ritmos naturais permaneceu por boa parte da vivência humana. Hoje ela persiste por meio dos indígenas, dos agricultores familiares e de subsistência, através da passagem de conhecimentos de geração para geração.
Com o passar do tempo, as inovações das indústrias chegaram ao campo, principalmente a partir de década de 50 com a revolução verde. Até o momento, a teoria malthusiana, de que no futuro haveria mais pessoas do que alimento, trazia grande medo à população. Então, a revolução verde tornou-se a grande esperança para da humanidade, por meio dessa agricultura nomeada de convencional ou modelo de desenvolvimento industrial de agricultura. Contudo, tal modelo se mostrou um desastre, pois, embora tenha aumentado a produtividade, esta não gerou a divisão igualitária dos alimentos, persistindo o problema da fome. Além disso, os aumentos na produtividade culminaram na retirada excessiva e na degradação dos recursos naturais da qual a agricultura depende como, o solo, as reservas de água e a diversidade genética natural, também levou a dependência de produtos industriais e o aumento dos custos de produção. Socialmente levou a concentração fundiária e a sobrevalorização da terra.
Entre 1965 a 1980, esta agricultura convencional se instala no Brasil, o processo de “modernização” foi impulsionado pelo Estado, por meio da política de crédito rural subsidiado. Contudo, nos anos de 1980, ganha força um movimento social em busca de alternativas tecnológicas ao padrão moderno, O movimento pela “agricultura alternativa”. Este movimento promove a mudança da visão antropocêntrica de conhecer a natureza para dominá-la, transformá-la e controlá-la para a visão ecocêntrica, na qual o ser humano se (re)encontra com a natureza. Surge desse movimento, a agroecologia, que se fundamenta nas bases científicas e não científicas (produzidas pelo saber popular), nos princípios, nos conceitos e nas metodologias que orientam o redesenho do agroecossistema. O processo pelo qual ela se ramifica, chama-se de transição agroecológica, que pode ser definida como o processo gradual de transformação das bases produtivas e sociais para recuperar a fertilidade e o equilíbrio ecológico do agroecossistema em acordo com os princípios da Agroecologia. Assim, priorizando o desenvolvimento de sistemas agroalimentares locais e sustentáveis, considerando os aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos.
Em outras palavras é o entendimento das áreas cultivadas como ecossistemas. Por tanto, ocorrem nesses espaços processos ecológicos como: Ciclagem de nutrientes, relações de cooperação, mutualismo, predação, competição, polinização e dispersão de sementes e entre outros. Os Agroecossistemas podem ser manejados de forma a produzir melhor, com menos impactos negativos ao ambiente, maior equilíbrio ecológico, sustentabilidade e menor consumo de insumos externos.
Podem ser concebidos três níveis ou passos para conversão de sistemas agrícolas convencionais em agroecológicos. O primeiro se refere à redução do uso de insumos externos, caros, escassos e impactantes ambientalmente; No segundo nível, ocorreria a substituição de insumos químicos sintéticos por insumos orgânicos e práticas alternativas. No terceiro, seriam redesenhados os sistemas produtivos para que passem a funcionar com base em um novo conjunto de processos ecológicos, sendo o expressivo aumento da biodiversidade um dos seus principais indicadores. A transição agroecológica, é por tanto o reencontro com a natureza, reaprendendo o seus ciclos e por meio desse conhecimento redesenhando o funcionamento do sistema de produção de alimentos em ritmo com a natureza.
Danilo De Souza Reis Júnior
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